O simples fascina
Vivemos na era
da busca desenfreada pela felicidade, achamos que ela possa estar em todos os
lugares, inclusive nos mais inusitados- num shopping center, perdoe-me os
consumistas de plantão, mas com certeza ela há de estar bem longe das
prateleiras de uma loja. Se assim fosse, seria muito fácil para os ricos!
Tudo parece
tão perto, a sociedade digital nos faz tão próximos de tudo e todos- num tempo
onde as pessoas mal se permitem contemplar o olhar do outro. É muita
contradição para tamanha provável certeza do encontro da tão almejada
felicidade! Ter a dimensão que coisas grandiosas existem, faz com que o simples
passe cada vez mais sem ser notado.
Ah...quanta
saudade do simples! Divina a luz do sol que me permita sentir em minha pele a
cor que teus raios transbordam nas águas, nas plantas, no semblante das pessoas,
sem precisar ser poéticos, o brilho do sol nos faz feliz sem nem mesmo
sabermos. Experimentemos um dia em que parece tudo estar dando errado, a imagem
ilustrativa do dia é um nascer cinzento de nuvens, onde não conseguimos
enxergar muita coisa. Essas correlações entre claro e escuro não é ao acaso, é
o simples emergindo em nosso ser, e mais uma vez, passando desapercebido.
Os dias de
pouca luz também tem seu significado, muitas vezes eles nos aconchegam numa
paz, numa sensação que tudo está caminhando a passos lentos. E assim, sem a
vibração forte das cores ocasionada pelo brilho do sol, conseguimos perceber
melhor a grande necessidade de ter tantas cores em nossa vida.
Diria que
junto com a grande dificuldade em viver o sonhado momento simples, falta a
crença da existência das pessoas que valorizam o simples, não sejamos
hipócritas em afirmar que vivemos sozinhos. É do afago carinhoso, de um abraço
forte, de um segurar de mãos, de um tocar na pele que conseguimos sentir o que
nenhuma grandiosidade tecnológica seja capaz de nos causar.
Onde estão
essas pessoas para olhar a lua e não somente contemplar fotos da lua? Onde estão as pessoas que ficam
felizes pura e simplesmente com a contemplação do mar? Onde estão as pessoas
que não desejam pura e simplesmente fazer uma viagem internacional, mas que são
capazes de viajar dentro de si ao lado de uma pessoa que ama? O sentir-se bem
anda tão condicionado a momentos inéditos, a lugares nunca vistos, a andar com
pessoas famosas, a distanciar-se do que não parece belo, que não valorizamos os
gestos mais simples.
Aquele que
consegue perceber a imensidão da apreciação de todas as formas de arte é um ser
mais próximo da divindade, porque a arte se expressa exatamente nos gestos
simples, nos sentimentos desarrazoados, no contentamento pelo riso num
contemplamento de um olhar sincero. “Felizes os convidados a ceia (...) muitos
serão chamados e poucos serão os escolhidos” – desejemos ser os convidados a
ser feliz pelas coisas mais simples desta vida, assim tudo será grandioso!