sexta-feira, 6 de maio de 2011

A vida no lençol

Sempre que começo escrever, o mundo desaparece e surge um pouco de um mundo que não existe logo atrás daquela cortina que não deixa o sol entrar no meu quarto. Talvez seja isso, culpa da cortina! Vou abri-la um pouco, não que meu quarto fique todo claro, mas que uns feixes de luz adentre.
Mas queria saber de uma coisa...quando eles entrarem, o que vou fazer? Será que já estou pronta para a luminosidade, ou o melhor que faço é não ver exatamente tudo que está lá fora? É tanta mentira no meio de poucas verdades, é tanto medo no meio de pouca coragem, é tanta condição no meio de pouca certeza, é muita “desculpa” pra pouca razão, é muito silêncio para tantas palavras, é muita inércia pra tanto movimento! É muita sobra pra pouca falta, ou pouca sobra pra muita falta?
A vida vai passando pela janela de meu quarto e não tenho tempo nem mesmo de avisar que estou aqui, é uma busca incessante pelo que ainda não se tem, e uma saudade imensurável pelo o que de bom já existiu. Mas o que tenho hoje é o presente de viver, um momento que é o único -que é real, mas que passa tão despercebido. Eu quero é abrir toda a cortina, escancarar a janela e deixar o sol entrar completamente em meu quarto, quero até sentir calor, e se por ventura o tempo fechar, quero que a chuva molhe os lençóis de minha cama, porque cansa sentir pouco por medo da chuva entrar. O que seria umas gotas de água da chuva no meu lençol branco, limpo e devidamente arrumado? Seria simplesmente um lençol molhado! E caso eu queira depois vê-lo seco, basta pendurá-lo no varal.
O que não posso é pendurar as expectativas de ver o lençol molhado, sem elas eu não crio vontades, e sem vontade...ah...sem vontade a vida não tem muita graça, é como tirar da criança o brinquedo que ela tanto gosta! A vontade nos move, ela só não nos leva imediatamente onde desejamos, mas ela nos impulsiona a chegarmos, nos faz ver o inatingível ser contemplado. Pena que somos tão covardes, o medo de receber o não nos impede de ir em busca do sim, tamanha pequenez não acreditar que é possível ser grande, basta sentir de verdade!
Xi...Está aí, sentir de verdade? E se sente de mentira? O pior que sente! É tanta gente fingindo que ama pra ser amado, fingindo que sabe pra ser notado, fingindo que é “gente” pra agir como animal, fingindo sorrir pra causar a tristeza...nossa! Quanto pessimismo!
Calma...tem gente que ama, que chora, que abraça, que apoia, que se torna cumplice até mesmo nos momentos de derrota e que consegue ver que tudo pode ser diferente. Experimenta pegar o lençol molhado, vá...caminhe, nunca fez isso? A hora é agora! Quando ele secar, deixa mais uma vez a chuva cair, e deixa quantas vezes for preciso para que ele seja lavado com a água da chuva, sem que você precise lavar com suas mãos, quanto mais natural for o processo de lavagem do lençol, mas certa estará sua consciência de que caminhou exatamente todo o percurso, de “sol a sol”, de “chuva a chuva”, o arco-íris chega quando menos se espera, e menos se espera exatamente porque a chegada do arco-íris se torna normal tal qual a chuva, tal qual o sol, e assim todos os momentos de sua vida se tornam especiais, simplesmente por serem únicos!

Um comentário:

  1. Descrito a parte do lençol, gostei da antítese ficou bem interativa as palavras, esse seu quarto é uma aventura hein...

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