domingo, 3 de abril de 2011

Uma realidade sonhada


Visualize neste instante um cenário de uma pequena montanha de frente para o mar, onde as águas batem nas pedras, formam-se ondas que sobem ao ar e misturam-se com o branco das nuvens;  surfistas sendo envoltos pelas ondas, outras tantas pessoas sentadas sobre areia da praia- ao lado deste cenário ideal-uma realidade projetada: uma jovem mulher sentada nas pedras lendo um livro, olhando este mesmo cenário, estando de costas para a vida real.
E por mais estranho que pareça, neste momento, a mulher, embora parecesse estar literalmente de costas para o mundo(que não é prazeroso) e de frente ao paraíso( que parece não poder fazer parte do “mundo”), ela consegue contrastar a realidade momentânea daquele lindo cenário natural, com a realidade rotineira expressada naquele livro que lia, num momento que estava de costas pra ela.
Exatamente diante de dois mundos: o cenário real sonhado- a  prazerosa praia e o cenário real vivido: a enfadonha rotina “mundana’, foi possível que aquela jovem conseguisse perceber o seu verdadeiro eu, a ponto de ter a certeza que a enfadonha rotina poderia ser vivida numa realidade sonhada.
Contraditório viver e sonhar? Não seria contraditório viver sem sonhar? Ou melhor, sonhar um sonho sonhado por outros? Seria isso viver? Seria isso sonhar? (...) um instante se congela na memória, e este se perpetua inquieto durante todos os momentos que vida permite que respiremos fundo- isto é sonhar!
E sonhando, aquela jovem mulher percebeu que é possível viver no meio de muita gente e sentir-se sozinha, vivenciando uma solidão de sonhos não compartilhados, não acreditados e falseados pelo mundo cotidiano. Bem como é possível não sentir-se só, ainda que estivesse sozinha, deste que estivesse vivendo seus próprios sonhos.
Estamos no meio de tanta gente, que em verdade, não é gente- é um povo que não sabe nem mesmo o que é sonhar, que nem mesmo sonha e tão pouco acredita que existe uma realidade diferente daquela vivida.
E assim, multiplicam-se os números, aumenta-se a contingência de um povo rico de informações e pobre de conhecimento, que assiste sua própria vida como uma telenovela, angustiando-se com as falsas mentiras e sorrindo com as alegrias já esquecidas.
Como alguém que não sabe até onde existe seu eu, ou até onde seu eu é apenas um produto do meio. Poderia este alguém dizer que sabe o que é ser feliz? E até mesmo quais os motivos que lhe possam fazer chorar?
Uma controvérsia se instala, aprendemos que desenvolver uma habilidade artísitica seja uma perda de tempo para este mundo mecânico, pois o que importa é acumularmos conhecimento, ainda que não saibamos como e onde deveremos usá-lo. O que faz as razões de sorrir e chorar perderem suas causas.
E assim, perdemos a sensibilidade de pararmos diante de um cenário natural e inebriar-se com seu encanto, mas adquirimos a curiosidade e necessidade de vermos na TV cenas de violência e miséria, e recusar-se a ver isto é negar a realidade. E criar um momento para ver outra realidade, é negar a vida real.
E assim, o que seria natural, torna-se atípico, e o típico se torna exatamente aquilo que nos enche de um mundo viril e estéreo de pensamentos diferentes- nos tornamos exatamente iguais uns aos outros, e ainda temos a hipocrisia de apontarmos os defeitos alheios.
Não saltemos os olhos, pois assim perderemos a noção do que seja real e do que seja utópico, mas saltemos o olhar e saibamos enxergar o que os olhos da alma são capazes de ver, nos desapeguemos dos pre- conceitos, criemos nossos conceitos diante daqueles já pré-conceituados, e façamos da rotina enfadonha um sonho encantado real.
Não precisamos ir distante, para nos sentirmos longe desta realidade que nos aliena e empobrece nosso espírito, encontre uma sombra de uma árvore se a praia lhe é distante, encontre o encanto de flores no jardim se uma fazenda lhe é impossível chegar, até mesmo tome um banho demorado e sinta as gotas das águas debruçando em seu corpo como se pudesse sentir a tranquilidade das águas de uma cachoeira. E assim, tente perceber os seus sonhos reais.
Não se trata de um encontro com um mundo utópico, por ser sonhado, mas exatamente o contrário, por ser sonhado pelo seu EU, que seja real. Saia desta realidade que lhe paralisa e entre nos sonhos que lhe movem e lhe fazem viver! “Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada.”- já dizia Clarice Lispector.
Soltemos os olhos do corpo, e caminhemos além do que eles falsamente nos limitam a enxergar, olhemos com os olhos da alma, este sim, nos farão sonhar!

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